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terça-feira, 10 de maio de 2011

A psicologia dos budas.

A psicologia dos budas não é análise nem síntese, mas transcendência, ou seja, ir além da mente. Não é um trabalho dentro da mente, mas um trabalho que o leva para fora dela. Este é exatamente o significado da palavra “êxtase” — sair de si.
Quando você é capaz de deixar sua mente, quando se torna capaz de criar uma distância entre sua mente e seu ser, então você terá dado o primeiro passo na psicologia dos budas. Um milagre acontece: quando você sai da sua mente, todos os problemas dela desaparecem, porque a própria mente desaparece, ela perde o controle sobre você.
A psicanálise é como podar os ramos de uma árvore: novos brotos crescerão, pois as raízes não foram cortadas. E a psicossíntese é como colar os ramos caídos de volta na árvore. Isso também não trará vida aos ramos, que continuarão com um aspecto feio. Eles não estarão verdes, não farão parte da árvore, estarão apenas colados a ela.
A psicologia dos budas corta todas as raízes da árvore que cria as neuroses e psicoses e que gera o homem fragmentado, mecânico, robotizado. E o caminho é simples...
A psicanálise demora muitos anos e, ainda assim, o homem permanece o mesmo. Ela apenas renova a estrutura antiga, remendando aqui e ali, aplicando uma mão de tinta para disfarçar. Mas continua sendo a mesma casa, nada foi radicalmente alterado. Ela não transformou a consciência do homem.
A psicologia dos budas não funciona dentro da mente. Ela não está interessada em analisar ou sintetizar, apenas ajuda você a sair de sua mente para que possa dar uma olhada pelo lado de fora.
E este próprio olhar já é uma transformação. No mo mento em que você consegue olhar para sua mente como um objeto, você se distancia, perde sua identificação com ela.
Urna distância é criada e as raízes são cortadas.
Por que as raízes são cortadas dessa maneira? Porque é você quem alimenta a mente.
Se você está identificado, você ali menta a mente. Caso contrário, você interrompe essa alimentação. Ela cai morta por si só.
Existe uma bela história que eu adoro contar... Diz a lenda que um dia, já em idade bastante avançada, Buda passava por uma floresta. Era um dia quente de verão e ele estava com muita sede. Então ele disse a Ananda, seu discípulo-mor:  “Você precisa voltar, passamos por um pequeno riacho cinco ou seis quilômetros atrás. Vá, leve a minha vasilha de esmolas e me traga um pouco de água. Estou com sede e cansado.”
Ananda retornou, mas, ao chegar ao local, percebeu que alguns carros de bois haviam atravessado o riacho, revolvendo o leito de folhas secas e deixando a água enlameada. Já
não era mais possível beber daquela água, ela estava muito suja. Ele voltou com as mãos
vazias dizendo: “Você precisa esperar um pouco. Eu vou seguir adiante, pois ouvi falar de
um grande rio a apenas três ou quatro quilômetros daqui. Eu trarei água de lá.”
Mas Buda insiste dizendo: “Volte e traga água do mesmo riacho.”
Ananda não conseguia entender tanta insistência, mas, se o mestre estava ordenando, o discípulo obedeceria. Assim, ele retornou ao riacho, mesmo sabendo do absurdo que seria caminhar cinco ou seis quilômetros, sabendo que a água não era boa para ser bebida.
Ao retornar, Buda disse: “E não volte se a água ainda estiver suja. Se estiver suja, simplesmente sente à margem do riacho e permaneça em silêncio. Não faça nada, não entre no riacho. Apenas sente à margem em silêncio e observe. Cedo ou tarde a água estará límpida novamente, você poderá encher a vasilha e voltar.”
Ananda retornou ao local. Buda estava certo: a água estava quase límpida, as folhas tinham sido levadas, a sujeira tinha assentado. Mas ainda não estava absolutamente límpida. Assim, ele se sentou à margem e apenas observou o rio fluir. Lentamente, ele se tornou transparente como um cristal e Ananda retornou dançando. Ele havia entendido por que Buda fora tão insistente, pois na sua insistência Buda havia deixado uma mensagem que ele compreendera. Ananda entregou a água a Buda e o agradeceu, tocando seus pés.
Buda então disse: “O que você está fazendo? Sou eu quem deveria agradecê-lo por ter me trazido água.”
Ananda retorquiu: “Agora eu entendo. No início, eu estava com raiva. Eu não demonstrei, mas estava com raiva porque achava que era absurdo voltar. Agora, entendi a mensagem. Sentado à margem do riacho, me dei conta de que a mesma coisa acontece com minha mente. Se eu mergulhar no rio, eu o sujarei novamente. Se eu mergulhar na mente, apenas criarei mais barulho, mais problemas serão desenterrados e irão começar a aparecer.
Aprendi a técnica simplesmente ao sentar à margem.”
Fique sentado à margem de sua mente, observando sua sujeira, seus problemas, suas folhas podres, mágoas, feridas, memórias, desejos. Sente-se despreocupadamente à margem de tudo e aguarde o momento em que tudo estará límpido novamente.
Isto acontecerá por si só porque, no momento em que se sentar à margem de sua mente, você não estará mais transmitindo energia para ela. Essa é a verdadeira meditação.
A meditação é a arte da transcendência.
Freud falou em análise, Assagioli em síntese. Os Budas sempre falaram em meditação e consciência.
O que há de tão especial nesse terceiro tipo de psicologia? Meditação, percepção, observação, testemunho — isso é único. Você não precisa de um psicanalista. Você pode fazer isto sozinho. Na verdade, você tem que fazer isto sozinho. Não é preciso nenhum manual, pois o processo é simples quando executado: caso contrário, parece muito complicado.
A própria palavra meditação assusta muito as pessoas, pois elas pensam que é algo difícil e árduo. Sim, se você não meditar, fica tudo muito difícil e árduo. É como nadar. No início, parece muito difícil, mas depois que você descobre o processo vê que é simples.
Nada pode ser mais simples do que nadar. Não é uma forma de arte, é tão espontâneo e natural!
Tome maior consciência de sua mente. Ao fazer isso, você também tomará consciência de que você não é a mente. E este é o início da revolução. Você começa a se elevar mais e mais. Você deixa de estar atrelado à mente, que funciona como uma pedra que o detém. Ela o prende dentro de um campo gravitacional. No momento em que você se liberta da mente, quando a gravidade perde seu poder sobre você, você entra no campo de Buda. Entrar no campo de Buda significa entrar no mundo da levitação. Você começa a flutuar. A mente, no entanto, continua a puxá-lo para baixo.
Assim, não é uma questão de analisar ou sintetizar. É simplesmente uma questão de tomar consciência.
A verdadeira terapia é a transcendência, e não apenas a psicoterapia. Não é um fenômeno limitado à psicologia, é muito maior do que isto. É espiritual. E pode curá-lo no mais fundo de seu ser.

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INOCÊNCIA -

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AS FOTOS SÃO DE UMA GAROTINHA CHAMADA TIPPI, NASCIDA EM NAIROBI, ÁFRICA EM 1990. CRESCEU NA SELVA COM SEUS PAIS, QUE SÃO FOTÓGRAFOS FRANCESES DA VIDA SELVAGEM. ELES DOCUMENTARAM A VIDA DE SUA FILHA COM OS ANIMAIS.


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