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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Entrevista Satyaprem

 
Satyaprem, o "Encontro com a Verdade" parece o fim da linha. Com o encontro parece que acaba, que se chega a um ponto final. Isso é um início, na verdade?
Satyaprem - Isso é um início, não é um ponto final. É o ponto final da Busca. Agora você não está buscando absolutamente mais nada. Agora você encontrou e a vida se desenrola de uma outra forma.
E esse encontro ele se dá de várias formas? Agora eu falo das linguagens. Tem a música, a poesia... etc e tal. Então, são várias formas, vários caminhos de acontecer o "Encontro com a Verdade"?
Satyaprem - É, pode-se dizer assim, mas na verdade não tem uma forma. O "Encontro com a Verdade" é o que estou chamando de Satsang. É uma forma de encontrar e discutir, por exemplo, qual é o conteúdo da sua mente e o que está dentro dela. Digamos que você preze algumas coisas na sua mente, essas coisas devem ser checadas, contra a realidade do momento. Se nesse momento essas coisas que você pensa, que você acredita, não têm fundamento, você, então, se rende ao momento e a esse Vazio que fica criado. Se eu tiro coisas de dentro de alguma coisa, eu vou tirando e vou ficando com a aquele espaço totalmente vazio. A busca de todas as pessoas que meditam é ficar cara a cara com o Vazio. E não só isso: se entregar ao Vazio. Mas as pessoas querem sempre permanecer um alguém e tornar o Vazio um objeto dentro da idéia de quem elas sejam. Ou seja, "Eu quero ter o Vazio". Mas você não pode ter o Vazio, o Vazio é que tem você, você ter o Vazio é impossível. Então o confronto, o "Encontro com a Verdade" cria, na verdade, a clara visão de que você não pode conter isso que é maior do que você, e você se rende a estar contido nisso que é maior do que você. Nessa rendição você se torna o Oceano. E, ao avesso, a gota que você era, a idéia que você tinha de separação é descabida, ela se desmancha.
E ao longo do livro "Quem é você", o que temos é Satsang?
Satyaprem - Isso. O livro é uma coletânea do que chamamos de pérolas, são momentos dentro de Satsangs. Por exemplo, eu falo com você durante um final de semana inteiro, nós conversamos e dessas falas nós retiramos momentos que são essas pérolas que você está vendo. Isso não é escrito, nem é editado, foi tirado como foi dito. Isso é um verbatim de um Satsang ao vivo e a cores. Você vai ter contato direto com as palavras proferidas desse jeito. Não foi editado. Não é poesia, não é literatura, é Satsang.
O professor José Moura, que é nosso ouvinte assíduo, ligou agora colocando uma questão para você. Ele diz que o Budismo, o Existencialismo e Sócrates dizem que só dentro de si mesmo pode-se encontrar a verdadeira personalidade. Assim, ele quer saber como você aproveita isso, como você liga essa colocação com a ontologia, o Tratado do Ser. E, também, qual é o ritual que você utiliza para encontrar o verdadeiro Ser?
Satyaprem - Veja bem, o que você colocou como vindo do Budismo, Existencialismo e Sócrates, todos apontam para a mesma coisa, corretamente. Qual é o ritual que eu uso para a pessoa chegar ao Ser? Bom, a minha primeira pergunta para você é: "O seu Ser é algo separado de você? O seu Ser é uma idéia que você tem de alguma coisa que está em algum lugar?" Isso significa, simplesmente, que você assumiu uma dualidade. Essa dualidade é fantasiosa, ela é criada pela sua mente. Não há ritual nenhum, só há um entendimento a ser feito. Onde está o seu Ser e qual é a idéia que você tem dele? Essa idéia pode ser descartada. E se nós descartarmos essa idéia vamos ficar com alguma coisa. E essa "alguma coisa" que fica, naturalmente, é aquilo que você já é. Então você tem de estar pré-disposto, pronto para descartar completamente qualquer idéia que você tenha a respeito do seu Ser.
Quando se fala "Ser", muitas pessoas já interpretam isso: o Ser como Deus. Se nós estivermos no paradigma cristão ocidental, Deus é algo que está num outro lugar, nas nuvens, e eu não sou Ele. Então eu tenho que promover um ritual qualquer para fazer um encontro entre eu e Ele. O problema é que isso tudo é infantil, não tem nenhum Senhor com barbas longas olhando sobre você. Essa idéia toda tem que ir por terra, você tem que ver que isso é uma idéia e que ela é mal feita. Na verdade, Sócrates não fala nada disso, o Existencialismo tampouco e o Budismo muito menos.
Um ritual seria uma ponte entre "A" e "B". Só que na minha presença nós vamos olhar o seguinte: quem é "A" e quem é "B"? Se forem apenas idéias, o ritual perde totalmente o sentido. Então, eu não tenho ritual nenhum, de verdade. O meu negócio é simplesmente conversar com você e ver se aquilo em que você acredita pode ser experienciado no aqui e agora, se você tem como provar para mim que tudo aquilo que você pensa é verdade. E se não é, descarta. Porque só aqui e agora existe, não tem nenhum outro tempo, não tem passado, não tem futuro, nós estamos aqui e agora.
Não pensa e me diz, nesse momento, rompendo todos os limites da sua mente o que você vê? Ou seja, ser uma mulher significa o que? Significa viver de acordo com o que lhe disseram. Mas, a minha experiência direta, interna, em relação a "quem eu sou" não é ser uma mulher. O Ser não tem gênero, o Ser não tem tamanho, tampouco. Tudo isso é algo errado. Tudo aquilo que nos disseram é o que vive como sendo verdade e nós vivemos em busca de coisas que foram totalmente impostas de fora para dentro.
Seriam limitações do Ser?
Satyaprem - Não. São limitações da mente. O Ser é ilimitado, não tem como limitar o Ser.
Limitações, então, para tornar o Ser cabível/entendível?
Satyaprem - Isso. E é aí onde você se aliena do seu Ser. Porque você vive imaginando uma coisa que seja o seu Ser, mas que não é. Inclusive a idéia de olhar para dentro, por exemplo, é uma falácia. Como é que eu olho para dentro? Onde é dentro? Você sabe onde é dentro?
A primeira idéia que me vem sobre "dentro" é de uma coisa meio física, dentro do corpo mesmo.
Satyaprem - Pois é, essa já é uma idéia errônea. Porque dentro do seu corpo só tem fígado, rins, coração... órgãos. A sua Consciência não está dentro do seu corpo. O "dentro", no nível do Ser, da Consciência é outra coisa completamente diferente. Em Satsang nós elaboramos isso. E não é para você pegar um novo conteúdo. É investigar a linguagem que já temos para ver se ela é palpável numa experiência pragmática. Porque não é. A nossa avó diz que estamos dentro do corpo e que quando morrermos vamos sair dele, vamos para uma salinha e ficamos esperando um próximo evento para entrarmos num outro corpo e continuar aprendendo. Oras! Ninguém aprende nada. Se nós tivéssemos aprendido o mundo não estaria do jeito que está.
Desse jeito, o único momento em que estamos dentro de alguma coisa é quando estamos no útero da mãe, não é?!
Satyaprem - Ainda assim, mesmo quando você está dentro do útero da sua mãe, é o seu corpo, e não você. Você não está dentro de nada, nunca esteve e nunca vai estar. Mas tudo está dentro de você.
Já está acontecendo aqui, então, a experiência do Satsang?
Satyaprem - Essa era a proposta.
E a "Experiência Zero"? Como podemos fazer/ter uma experiência dessas: a experiência da não-experiência?
Satyaprem - Já estamos falando da "Experiência Zero". "Experiência Zero" é um codinome. Eu lendo, me dei conta que Buda, na verdade, dava Satsang. Satsang significa encontrar aquilo que não pode ser encontrado. Olha o paradoxo. Porque você não pode encontrar aquilo que está querendo encontrar? Porque aquilo já está encontrado, aquilo já é verdade em você. Mas está encoberto por uma série de pensamentos e idéias de fórmulas... Essas fórmulas todas deixadas de lado e você tem a experiência do Vazio. O Vazio não é uma coisa. Você pode ter a experiência de um copo d'água, você pode ter a experiência de um som, você pode ter a experiência de um objeto que você vê, de um objeto que você toca, ou seja, a experiência significa o filtro dos sentidos com as coisas que estão fora do corpo. O seu Ser não está fora do corpo como um objeto então você não pode ter uma experiência do seu Ser porque ele não pode ser tocado, não pode ser ouvido, não pode ser visto, não pode ser provado. Sendo assim, "A Experiência Zero" é o seguinte: é ter uma experiência direta, ou seja, uma experiência de uma forma completamente distinta das formas que você normalmente experiencia as coisas. É chamado de "Experiência Zero" por falta de uma expressão melhor. Mas na verdade é o seguinte: a sua Consciência tendo consciência de si mesma, não via mente, não via olhos, não via ouvidos, não via toque.
E esse encontro acontece numa conversa? É através do quê? Como se dá o encontro?
Satyaprem - Se dá como estamos fazendo agora. Conversando.
Dessa forma?
Satyaprem - Exatamente. Nós vamos conversando, você se abre e fica claro para você que estamos indo de encontro às suas crenças. Tudo aquilo que você imaginava pode ser só imaginação. E, em verdade, é tudo imaginação. E o seu Ser não é imaginado, não pode ser imaginado, nem tem como imaginar. Ou você O vê como Ele é, ou você fica imaginando coisas que não têm nada a ver.
Se nós vivemos nesse mundo da imaginação, e milhões de nós, no mundo inteiro...
Satyaprem - Estão imaginando...
Isso. E aí, como é que fica para viver?
Satyaprem - Eu que pergunto a você: como é que você pode fazer essa pergunta se você está vendo o mundo do jeito que está? O conflito existe porque nós imaginamos uma série de diferenças. Por exemplo, por que Israel está brigando com a Palestina? Porque eles imaginam-se diferentes uns dos outros. Essa imaginação cria conflito. Então, a sua pergunta deveria ser o reverso. Você deve se perguntar o seguinte: como você pode querer continuar vivendo imaginando coisas, se essa imaginação só nos leva à destruição, à discórdia, ao conflito? Reverta a sua pergunta e faça ela para você mesma. E você me responde...
(Risos)
Satyaprem - Responda-me agora: como é que podemos continuar imaginando? Está na hora de pararmos de imaginar e começarmos a Ser, de verdade. E nesse "Ser" cria-se um ambiente completamente seu. Ser é paz, ok? Ego é discórdia, ego é conflito. E veja só: tem uma ideologia por trás disso. A ideologia psicológica ocidental diz que: "você não pode concordar com todo mundo". O que está implícito nisso inconscientemente? Que você tem que discordar de todo mundo, necessariamente, para ser você. Em Satsang, você ser você significa exatamente concordar com todo mundo, porque todo mundo é você, você é idêntico a todo mundo. Então, existe um reverso aqui. Assim, eu te faço uma pergunta: como você quer continuar vivendo num mundo imaginado que cria tanta destruição, tanta desigualdade?
É mesmo, não é?! E eu vou saber te responder?
Satyaprem - Não sei. É exatamente assim que começa "A Experiência Zero". Nós temos crenças... E, veja só, se eu parto do princípio de construir uma casa eu não posso começar pelo telhado, eu tenho que começar pela fundação. Se a fundação não está boa, a casa não vai ficar boa nunca. Ela vai estar sempre caindo. É assim que estamos... As nossas casas estão sempre caindo.
O que eu fico refletindo é que ficamos imaginando que somos diferentes uns dos outros, mas, na verdade, isso não existe dessa forma. E há uma tendência hoje alardeada, por sinal, sobre as diferenças. Tem essa imaginação que é ruim, que leva à guerra, aos conflitos e isso tudo. E tem também o outro lado que é fazer uma propagação disso como uma coisa boa. Quer dizer: "Nós somos diferentes, portanto, isso é uma coisa muito boa".
Satyaprem - E onde repousa a sua diferença de mim? Repousa no conteúdo da sua mente, no conteúdo das suas experiências. E essa diferença é falsa, ela é imaginada.
É tudo falso, então?
Satyaprem - Tudo falso. Na verdade, você veio do pó e vai para o pó. Tudo a mesma coisa. Se você é rico, se você é pobre, se você é inteligente, se você tem conteúdo mental, intelectual ou se você não tem. Todos vamos para o pozinho. Então, ficar vazio, sem nada nas mãos é o ponto. Isso é Satsang, de verdade.
O professor José Moura está querendo continuar a conversa e pergunta se o que você fala é a negação de toda a cultura instituída, para substituir por novas crenças.
Satyaprem - Não.
E ele ainda pergunta que novas crenças seriam essas?
Satyaprem - Não tem novas crenças. Ele citou Buda, Sócrates e o existencialismo (que eu não ponho no mesmo patamar de Buda, nem de Sócrates). O existencialismo é uma filosofia inacabada, incompleta, não tem uma experiência de transcendência. Mas veja bem, Buda não foi aceito nem na Índia. A semente que Buda deixou foi nascer nos países mais orientais que a Índia, foi para o Japão, para a China e para a Indonésia. Foi lá que floresceu o Budismo. Na Índia hoje não existe Budismo, por quê? Porque já havia uma tradição e Buda era contra essa tradição. Sócrates foi envenenado porque estava propagando o "Encontro com a Verdade" e a sociedade hipócrita grega, naquele momento, não queria esse confronto. Eu não estou propondo novas crenças. Como eu poderia vir aqui e propor novas crenças? Nós não precisamos crer em nada para viver.
Eu comecei o programa e falei simplesmente que estava com o Satyaprem, e não fiz aquela apresentação tradicional, que costumamos fazer das pessoas. Falar o que elas fazem pelo mundo a fora, suas formações, etc, etc, etc... E têm muitas coisas aqui relativas à formação, às experiências do Satyaprem.
Satyaprem - Melhor nem ler... (Risos)
(Risos) Mas, entre elas, duas, especialmente, eu gostaria que você falasse sobre, brevemente: seu encontro com Osho e o seu encontro com Dolano, onde consta que lhe foi revelado o "fim da busca". Você pode falar para nós um pouco desses dois encontros? Se é que é possível, em tão pouco tempo?
Satyaprem - Ok. Quando eu encontrei o Osho me foi revelado exatamente o que Dolano me revelou. Mas não havia prontidão, eu não estava maduro o suficiente para reconhecer a responsabilidade de assumir a Verdade do jeito que ela tinha sido posta. O Osho me deu um nome, Satyaprem, que significa "Amor pela Verdade". Quando ele me deu esse nome, eu lembro que eu não gostei nem um pouco, porque parecia... sei lá! Amor e Verdade... Era algo que não caía bem a mim. Eu queria um nome mais poético, tipo "O poeta do Nada". Eu tinha amigos com tinham nomes tão bonitos, e eu achava tudo aquilo muito lindo. O Osho me chama de "Amor pela Verdade"... Eu fiquei desapontado. Mas aí eu comecei a me dar conta... no texto que veio junto com meu nome tinha o seguinte (era bem simples): "Você é a Verdade, não a procure em lugar nenhum". Eu olhei para aquilo e disse: "Ah, tá! Mas eu tenho que continuar meditando, eu tenho que fazer alguma coisa". Teria bastado naquele instante, se eu estivesse pronto, mas não bastou. No meu encontro com a Dolano , que é uma discípula do Osho que se iluminou, houve exatamente essa visão: de repente não tem nada, só tem a Verdade. Não tem nada! Não tem "eu" em lugar nenhum. A idéia de que exista um "Satyaprem", uma entidade separada é totalmente errônea. O que chamamos de Consciência, emana o que vemos como sendo o "Satyaprem". Mas, "Satyaprem" não existe. Na verdade, ele existe como um acontecimento no tempo , mas a verdade é que você não é um acontecimento no tempo, nenhum de nós é. Quando uma pessoa "acorda" para essa verdade, começou aí o "fim da busca". Agora a vida se desenha de uma forma totalmente diferente.
Satyaprem, muito obrigada!
Satyaprem - Eu que agradeço

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INOCÊNCIA -

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AS FOTOS SÃO DE UMA GAROTINHA CHAMADA TIPPI, NASCIDA EM NAIROBI, ÁFRICA EM 1990. CRESCEU NA SELVA COM SEUS PAIS, QUE SÃO FOTÓGRAFOS FRANCESES DA VIDA SELVAGEM. ELES DOCUMENTARAM A VIDA DE SUA FILHA COM OS ANIMAIS.


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